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Ikai | REVIEW

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Ikai é um jogo de horror psicológico desenvolvido pelo estúdio independente Endflame. O cenário independente tem sido uma forte porta de entrada para jogos do gênero de terror, conquistando bastante espaço e se destacando cada vez mais. Será que Ikai tem o potencial para se destacar nesse segmento concorrido e seguir a linha de jogos de terror de sucesso? É o que veremos nessa análise.

Ikai Cover
  • Jogo: Ikai
  • Desenvolvedora: Endflame
  • Publicadora: PM Studios
  • Lançamento: 29 de março de 2022
  • Número de Jogadores: Single player
  • Gênero: Psychological Horror
  • Plataformas: PS4, PS5, XONE, XSXS, SW, PC
  • Site Oficial: Aqui

Apresentação

A Endflame é um estúdio independente com base em Barcelona formado por apenas três pessoas. Ikai é o primeiro jogo do estúdio, em produção desde 2019 e trazendo uma atmosfera incrivelmente detalhada do Japão da era feudal. Começar justamente com um jogo de terror psicológico não é uma tarefa fácil, mas mesmo assim Ikai vinha chamando atenção no cenário independente por causa de sua narrativa intrigante e sua maestria no uso do áudio. Vamos conferir mais sobre Ikai!

Um Japão Feudal Macabro

Ikai World

Temática

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Poucas regiões do planeta são tão cercadas de mitologia e de criaturas místicas quanto o Japão. Seu folclore único e imortalizado por diversas obras ao redor do planeta ainda desperta interesse na maioria do público. As lendas urbanas e histórias que envolvem deuses, demônios e criaturas místicas são levadas muito a sério por lá, afinal, os templos e rituais praticados (em diversos lugares, até os dias de hoje) serviam para se comunicar com esse lado obscuro e muitas vezes macabro das divindades.

Ikai se passa no meio desse folclore. A história do game não apenas se passa no Japão, ela representa totalmente o Japão. O game apresenta de forma muito interessante a curiosa mitologia japonesa de yokais, demônios que podem ser bons e inofensivos, como os Kodamas, protetores das florestas, ou maus e perversos, como o terrível Kijo. Da mesma forma como os habitantes comuns da época, é a sua vez de estar na pela da jovem Naoko, uma menina sacerdotisa que precisa completar uma série de rituais para expulsar os demônios da sua região.

Gráficos

Ikai se passa no centro de um templo japonês, envolto por natureza, como pedras, folhagem, rios e algumas construções simples. O game é no todo, simples. E mesmo assim possui problemas visuais inaceitáveis. É compreensível que a equipe de produção era pequena e o orçamento era baixo, mas o visual do game sempre dá a impressão de estar atrasado na geração, não parece algo feito para a geração do Playstation 4 e Xbox One. Mesmo na simplicidade, com poucos efeitos visuais, o game não consegue se destacar, sendo às vezes feio e às vezes mediano. Cenários com falhas visíveis, efeitos de luz e sombra muitas vezes mal feitos, e o design de movimentação dos personagens também não ajuda. Para concluir, o game possui falhas no sistema de legendas, com legendas que muitas vezes não aparecem e informações vitais que deveriam estar visíveis (como, por exemplo, para explicar algum elemento da jogabilidade) simplesmente não aparece da forma correta ou some do nada.

Sons Atemorizantes

Se graficamente o game não agrada muito, é na parte sonora que ele se destaca. A ambientação sonora do game foi caprichada, e pensada para funcionar muito bem. O game se ambienta no silêncio e nos sons de animais e de folhagem ao redor. A todo momento, o game te passa a impressão de solidão, vulnerabilidade e desespero. Não espero gritos estridentes, berros de estourar o tímpano ou coisas muito clichês de jogos de terror. Aqui, o game tenta te envolver e te desesperar ouvindo muito pouco. O game não tem música propriamente dita, focando sua parte sonora na ambientação e em te fazer ter certeza que você não está sozinho e que tem um espírito maligno bem atrás de você agora mesmo. Jogue com um fone de ouvido e sinta toda a imersão que a parte sonora pode te proporcionar.

Os sons de passos e rangidos de madeira são suficientes para manter o jogador atento sempre. De vez em quando, um gralhar de um corvo ou um farfalhar das folhas das árvores. Mas de repente, poderá ouvir uma voz te chamando, ou um sussurro vindo de algum lugar próximo. Lembrando que você está sempre sozinho (teoricamente) no templo, qualquer voz estranha que ouvir definitivamente chamará a sua atenção, mesmo que seja apenas um sussurro ou fala melodiosa. Vale mencionar que o jogo possui voz para os personagens e os diálogos estão dublados em inglês de maneira muito bem feita.

Terror Totalmente Psicológico

Sustos e Calafrios

O jogo é de terror puro, do estilo psicológico. Então espere uma atmosfera macabra e assustadora a todo momento. O maior objetivo do jogo é causar uma sensação de tensão e desespero, e tudo irá favorecer esse clima. Não apenas gráficos e sons, mas a própria jogabilidade do jogo coloca o jogador em uma situação desfavorável, onde ele é sempre o alvo, sempre vulnerável e precisando confiar nos seus instintos para conseguir avançar de tela em tela.

Boa parte dos sustos que o jogo proporciona são jump scares simples. Do tipo que um demônio ou bicho aparece repentinamente na sua frente, ou algum animal voa em sua direção sem aviso. Os jump scares são fracos, podem te pegar de surpresa vez ou outra mas logo você se acostumará a eles e ao padrão em que eles costumam aparecer, e o efeito assustador some. Mas não deixe isso te enganar: o clima de terror psicológico e de perseguição nunca irá te deixar em paz. Em quase todo o momento em que estiver jogando Ikai, o clima será de silêncio e terror absoluto, com o mal sempre à espreita. Tanto que, quando o som aparece, geralmente é para dar aquele susto maroto.

Interação

O jogo se passa em primeira pessoa, e a jogabilidade se baseia em andar por aí, interagir com as coisas e resolver quebra-cabeças. O jogo possui um cursor visível na tela, semelhante a um Adventure, e por meio dele podemos abrir portas, gavetas, armários, empurrar objetos, e tudo o mais. O sentimento de imersão fica ainda mais amplificado quando nós podemos interagir com quase tudo, empurrando objetos pelo cenário e procurando itens dentro de portas e gavetas.

A interação manual com os objetos é de vital importância na resolução de quebra-cabeças, quando temos de manualmente girar manivelas, tocar sinos, abrir caixas e portas ou fazer desenhos a pincel em telas. Quase tudo pode ser interagido, e a vasta maioria é inútil. Podemos girar objetos encontrados e até pegar alguns itens do cenário só para olhar mais de perto, mesmo que não tenha relação direta com o que temos de fazer. Também é legal achar itens colecionáveis escondidos embaixo de coisas ou dentro de gavetas, então olhe por todos os cantos do cenário.

Quebra-Cabeças

Há diversos tipos de quebra-cabeças em Ikai. Alguns são fundamentalmente lógicos, como por exemplo um em que tem de seguir uma trilha de chamas obedecendo a ordem em que elas acendem e apagam. Se errar e for queimado pela chama, terá de refazer desde o início, mas é tão simples e intuitivo que chega a parecer bobo. Outros são mais complexos, e envolvem mover peças em um tabuleiro intrincado para tentar formar uma imagem ou fazer passar algum objeto. Não é nada que chegue perto dos quebra-cabeças mirabolantes que esse tipo de jogo tinha na época do Playstation 1, por exemplo, mas já está melhor do que muitos dos jogos de terror de hoje em dia.

Alguns puzzles são absurdos de estranhos, também. Inspirado em demasia na cultura japonesa, por diversas vezes o jogo pensa em usar símbolos e caracteres estranhos para simbolizar objetos, e fica difícil entender como funcionam diversos quebra-cabeças. Para ajudar, muitas vezes as dicas mentais da Naoko nem ajudam muito a entender o que fazer. Mas com tempo e paciência sempre é possível compreender o que deve ser feito, mesmo que pareça ilógico para quem não é japonês e conhece sua cultura.

Design das Fases

O jogo quer que você se perca, e se esforça muito para isso. Ikai não possui um mapa. A orientação sobre para onde ir no labiríntico templo se dá por meio de frases da própria protagonista falando consigo mesma. Às vezes, ela dá a informação precisa, dizendo algo como “devo ir para a direita do poço”, e outras vezes ela simplesmente fala em enigmas, dando uma pista e deixando o jogador olhar o cenário e entender o que ela quer dizer. Ela pode falar, por exemplo, “entre o mudo e o surdo”, e cabe ao jogador encontrar uma estátua de um macaco mudo e uma de um macaco surdo para entender onde ela quer que a gente vá. Há diversos caminhos, geralmente adornados por estátuas, símbolos e afins, e decorar onde fica tal lugar é a única coisa que podemos fazer. Muitos dos caminhos levam a becos sem saída, o que não atrapalha muito quando estamos apenas explorando, mas quando estamos tentando fugir de um demônio, é a diferença entre a vida e a morte.

E quando o jogo não te disser nada e nem deixar claro para onde tem de ir? Bem, geralmente seguir a luz adianta. Se olhar em volta para os locais escuros e apenas um dos caminhos possui tochas iluminadas, essa é a forma do jogo chamar sua atenção e dizer “venha por aqui”. As fases podem ser cheias de momentos de tensão e jump scares, mas não possui armadilhas mortais ou algo do tipo, então pode andar sem medo pela maioria dos cenários.

Se estiver dentro de uma sala sem saber exatamente o que fazer, a Naoko irá começar a falar consigo mesma, dando pistas cada vez mais direta sobre o que fazer ou para onde ir. Se você precisa encontrar algo, como, por exemplo, um pincel, poderá ouvir a protagonista dizer “preciso achar um pincel”, e, se estiver tendo dificuldades em achá-lo, depois de um tempo começará a ouvir “talvez eu ache um pincel no segundo andar”. Quando pegar uma chave, geralmente a Naoko sussurra onde essa chave é usada, e assim por diante. Esse tipo de pista acaba sendo necessário porque realmente é difícil se localizar e procurar itens nos cenários escuros e claustrofóbicos do game.

Demônios por Todo Lado

Inofensivo

Encontrará diversos inimigos em Ikai, na forma de demônios diversos, todos baseados em lendas urbanas e mitos da mitologia japonesa. Não espere enfrentar os inimigos diretamente, pois não há combate ou enfrentamento no jogo, pelo menos não na maneira tradicional. É um daqueles jogos ao estilo Outlast, em que seu único recurso será correr dos inimigos e se esconder para não ser visto. Por isso a jogabilidade do game é muito básica, sendo possível apenas correr ou se agachar para andar sem fazer barulho. Isso é perfeito para não ser ouvido pelos demônios, mas de nada adiante se for visto, então fique sempre escondido nos cantos e não saia andando a esmo sem ter certeza do que está por vir.

Corre, se Esconde e Corre de Novo

As partes em que inimigos aparecem podem ser divididas em três partes: desapercebido, perseguição e esconde-esconde. Quando um inimigo aparece, ele costuma rondar por trajetos pré-definidos dentro do cenário, e cabe ao jogador passar escondido por trás de objetos e sem fazer barulho para conseguir avançar sem problemas. Essa é a primeira parte, em que está desapercebido. Geralmente, seu objetivo é encontrar um item importante naquele cenário em que o demônio se encontra.

Só que, mais cedo ou mais tarde, Naoko será vista. Isso é obrigatório no jogo, é inevitável. E então, entra a fase de perseguição, que mais parece cenas de QTE, quick-time events. O jogador precisa correr por corredores, empurrar objetos fora do seu caminho, pular obstáculos, abaixar para passar por outros obstáculos e empurrar objetos para atrasarem o demônio perseguidor. Basta um erro, e será pego, e então terá de reiniciar o checkpoint. Pode tentar infinitas vezes, até decorar o trajeto e o que tem que fazer para escapar. Morrerá diversas vezes, mas logo pegará o jeito.

Aí, quando chegar em alguma sala específica, começará o esconde-esconde. Terá de achar algum elemento específico do cenário, como um canto escuro ou biombo, para se esconder. Naoko deverá ficar lá e aguardar, com o coração na boca, o demônio passar por ela e ir para o outro lado. O objetivo é quase sempre o mesmo: ir até uma mesa e desenhar um símbolo de exorcismo para pendurar na porta e exorcizar aquele ambiente, ficando livre daquele demônio por um tempo. Mas é claro que terá de fazer isso com o demônio à espreita, então desenhe o símbolo enquanto ouve atentamente os passos e sons do demônio, serão seus únicos indicativos se ele está por perto ou não.

Longevidade e Repetição

Essa situação de encontrar um demônio, passar escondido, ser visto, correr dele e então se esconder e tentar exorcizar o ambiente com um ritual será repetido diversas vezes no game. É o ponto alto do game, os momentos de mais tensão são quando temos um demônio sanguinário na nossa cola. Quando ele passa zunindo e grunhindo do nosso lado, ou quando tudo o que podemos ouvir são seus passos e o ranger da madeira, enquanto dezenas de vozes cadavéricas de fantasmas cochicham por perto. Tudo sempre se repete, mas arrepia do mesmo jeito.

E a longevidade? Bem, o game não é tão comprido, tem cerca de 2 a 3 horas de duração, o mesmo padrão dos outros jogos de terror independentes no mercado. É pouco para os padrões de hoje, mas era a norma na época dos grandes clássicos de terror de gerações anteriores. Então, fica a seu critério se é pouco ou o suficiente. Para o meu critério, como avaliador, está um pouco abaixo do ideal. O jogo é divertido, possui vários momentos legais com bons sustos, mas acaba se repetindo muito na sua fórmula e acaba mais rápido do que poderia pelo tanto de repetição.

Colecionáveis e Extras

O jogo é curto, mas para tentar alongar um pouco mais a experiência, os cenários são repletos de colecionáveis. Encontrará textos que contam um pouco mais a história dos yokais (vários deles presentes no game), cartas que contam acontecimentos passados do templo e da Naoko e explicam muito mais a relação dela com a irmã e o tio, e também objetos diversos que trazem memórias para a Naoko, revelando ainda mais sobre ela. Esses colecionáveis podem estar muito bem escondidos, em cantos escuros e dentro de gavetas. Caçá-los irá contar fatos adicionais da história que valem a pena serem relatados para se aprofundar ainda mais na boa história pensada para o game.

O final do jogo é marcante, e realmente fecha a história de maneira bem fechada, sendo envolvente e tocante o desfecho de Naoko. A história do game ganha bastante corpo a partir da primeira hora de jogo, quando novos acontecimentos e personagens começam a aparecer, valendo muito a pena buscar colecionáveis para entender ainda mais como tudo se desenrola.

Ikai – Vale a Pena?

Ikai se inspira nos grandes clássicos do terror e nos traz o Japão feudal como terreno fértil de sustos e calafrios. Cercado de falhas, tradicionais de pequenos grupos independentes e iniciantes, o game foge do padrão de qualidade de grandes jogos, e também dificilmente conseguirá se destacar da forma como outros jogos independentes de terror conseguiram. Mas tem seu valor, se você é fã de jogos de terror, o jogo atende bem o custo-benefício, e vale a pena conhecer a história da exorcista Naoko em Ikai.

Ikai foi avaliado através de uma cópia gentilmente cedida pela PM Studios – Agradecemos a cordialidade!

Confira também nossos outros reviews.

Ikai

Gráficos - 50%
Jogabilidade - 75%
Diversão - 85%
Som - 90%
Dificuldade - 75%
Fator Replay - 70%

74%

Ikai se inspira nos grandes clássicos do terror e nos traz o Japão feudal como terreno fértil de sustos e calafrios. Cercado de falhas, tradicionais de pequenos grupos independentes e iniciantes, o game foge do padrão de qualidade de grandes jogos, e também dificilmente conseguirá se destacar da forma como outros jogos independentes de terror conseguiram. Mas tem seu valor, se você é fã de jogos de terror, o jogo atende bem o custo-benefício, e vale a pena conhecer a história da exorcista Naoko em Ikai.

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João Paulo Solano Lopes Filho

Sou um fã de videogames desde que me conheço por gente, principalmente de RPGs. Tento convencer os meus pais e a mim mesmo que não sou um viciado (acho).

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