ASYLUM | REVIEW

O terror e a literatura sempre estiveram de mãos dadas, e quando escritores como H.P Lovercraft começaram a publicar suas histórias, essa relação ficou ainda mais íntima. Nos games não foi diferente, e se aproveitando dessa história de sucesso ASYLUM foi anunciado no longinquo ano de 2010 e indo contra todas as probabilidades, 15 anos mais tarde, o game é lançado. Vamos conferir se todo esse tempo de espera valeu a pena.

Maturando um conto de terror

Como dissemos anteriormente, ASYLUM foi anunciado pela primeira vez em 2010, pela desenvolvedora argentina Senscape. O jogo foi produzido por Agustín Cordes, responsável por outros jogos de terror como Scratches, lançado em 2006. Visando acelerar o processo de desenvolvimento de ASYLUM, foi aberta uma campanha no Kickstarter que visava arrecadar fundos. O processo de arrecadação foi concluído com sucesso, arrecadando mais que o planejado, o que garantiu o porte do jogo para dispositivos mobile.

O game ficou em desenvolvimento sem uma data de lançamento até outubro de 2014 O jogo seria lançado em 6 de março de 2025, mas o lançamento ainda sofreu um pequeno adiamento, sendo lançado em 13 de março de 2025.

A história é o ponto forte de ASYLUM, o game apresenta fortes influências literárias de autores como H.P Lovercraft e Peter Cushing a Lucio Fulci. A história se passa em um Instituto voltado para cuidados mentais, que diferente da maioria dos jogos que foca no abandono, ainda tem funcionários e pacientes nas instalações. Nosso protagonista foi paciente do instituto, e quando começa a sofrer com novas pertubações mentais, resolve voltar ao local para tentar relembrar detalhes da sua estadia no local.

O clima do jogo mistura elementos dos anos 80, seja na literatura ou dos filmes de época, trazendo construções típicas, assim como elementos do cenário, como quadros, móveis e comportamento dos personagens. O andamento do jogo, assim como os acontecimentos que envolvem a narrativa, acontecem lentamente, impondo ao jogo um ritmo cadenciado, gerando a sensação de expectativa e tensão no jogador continuamente.

Pensando no tempo de desenvolvimento de ASYLUM, percebemos que o game demorou duas gerações de consoles para ser lançado, e ao longo desses 15 anos, muita coisa mudou, inclusive a fórmula de se fazer terror nos games. O termo jumpscare se popularizou nos games, e jogos de terror psicológicos elevaram ainda mais o termo, deixando o jogador apreensivo a cada porta aberta. Entretanto, ao invés de se apegar a essa modernidade, a desenvolvedora Senscape usou esse tempo para maturar as inspirações que deram origem a ASYLUM.

Uma investigação noturna

Vale ressaltar que enquanto você se envolve em um terror psicológico, terá de colocar em prática uma investigação no melhor estilo Sherlock Holmes, mas sem a mesma classe e perspicácia. Como um protagonista com problemas mentais, usaremos um bloco de nota que nos ajudará muito ao longo da nossa investigação.

Ainda que o instituto tenha poucas pessoas, sejam pacientes ou funcionários, como nossa recepcionista que está na sua primeira noite de trabalho, todos têm um papel na narrativa ou no seu desenrolar. Conversar com algumas pessoas é a única maneira de solucionar alguns puzzles e consequentemente, seguir em frente.

Ainda que tenhamos algumas referências no bloco de notas, o jogo não mostra quais são seus objetivos de fato. Isso pode ser um problema para jogadores menos dedicados, podendo afugentar jogadores casuais. ASYLUM é um jogo que demorou muito tempo para ser desenvolvido, o desenvolvedor preservou escolhas de gameplay que eram comuns há 15 anos, mas hoje, podem fazer o jogo parecer mais difícil do que realmente é.

A maneira como a investigação é feita, visa aumentar a duração do jogo, deixando elementos óbvios menos evidentes, fazendo o jogador menos atento aguçar seus instintos. Nem de longe isso deveria ser um problema, por ser somente uma escolha de design de jogo do desenvolvedor.

Uma experiência psicologicamente diegética

Temos uma noite inteira para explorar o local, pois pela manhã, uma grande obra de recuperação acontecerá, impossibilitando que você possa vasculhar o local, pois ele nunca mais será como foi durante seu tratamento. Os capítulos são divididos por horas, a cada hora concluída, estamos mais próximos de entender o que aconteceu conosco.

O tempo não é contado regularmente, deixando o jogador livre para explorar os corredores do local. Confesso que me peguei imaginando como seria se tivéssemos o tempo limitado para explorar, isso implicaria uma tensão muito maior, mas também deixaria o jogo indigesto para jogadores casuais. Um modo de jogo que forçasse o jogador a terminar cada capítulo dentro de 60 minutos seria interessante.

A narrativa criada no jogo se distância do terror puro, sem usar elementos de violência, como sangue ou acontecimentos com corpos mutilados e afins. O fato de estarmos em um sanatório e ter sido paciente aqui, torna tudo mais tenso. Um fator que pode colocar ainda mais peso sobre o terror, são os artigos espalhados pelo jogo, que contam a história do instituto. A narrativa é muito bem explicada, focando em estudos acadêmicos sobre doenças da mente.

ASYLUM, ainda que um game point-and-click, é cheio de idas e vindas, no melhor estilo que popularizou os games de terror do final da geração 32 bits. Talvez não na mesma intensidade, mas circular por vários corredores e salas algumas vezes é obrigatório. Os puzzles do jogo são muito interessantes, combinando, na maioria das vezes, vários elementos para serem solucionados, exigindo um certo nível de atenção do jogador.

Os puzzles são randômicos, dificultando ainda mais a solução, fazendo o jogador se envolver ainda mais com o jogo, pois você não encontrará uma solução fácil para cada um deles. Felizmente, o jogo tem tradução para o português, ajudando muito. Teremos muitas conversas com pacientes e funcionários, saber exatamente o que está acontecendo ajuda muito.

O apelo visual não está na beleza

A primeira vista, ASYLUM pode parecer um game com gráficos obsoletos, entretanto, não é o caso. As escolhas gráficas do desenvolvedor não poderiam ser mais acertadas, pois se encaixam perfeitamente na narrativa e na proposta psicológica imaginada e vivida pelo jogador.

Os gráficos têm a aparência de filmes antigos e até mesmo o terror lido em livros dos escritores mencionados. O game passa uma visão de época, em um sanatório como os encontrados no meio do século passado. Como você pode imaginar, o escuro faz parte da ambientação e da criação do clima de tensão, o legal, é que o game não abusa desse efeito.

O jogo conta com um bom nível de detalhes, e uma certa riqueza de realismo, mas não espere por muito. A exploração é gratificante em vários níveis, seja pela imersão na narrativa ou por conhecer melhor o Instituto, que não é um local pequeno. O level design foi muito bem construído, e ajuda a criar a atmosfera de suspense.

Como um jogo point-and-click, as animações não são tão ricas quanto poderiam, ainda que os personagens sejam muito bem construídos, não espere por movimentos complexos ou CGs ultrarrealistas, esse não é o propósito do jogo. Nos primeiros minutos de jogo, isso pode causar uma impressão negativa, mas assim que você entra no instituto e começa a exploração, a ligação entre os gráficos e a atmosfera ficam perfeitas.

ASYLUM — Vale a Pena?

Temos de concordar que 15 anos para desenvolver um jogo é tempo demais, independente do que tenha acontecido, jogos pereceram com um tempo de desenvolvimento muito menor que este. Felizmente, não foi o caso de ASYLUM. O game de terror tem uma aparência datada em vários segmentos, mas nem de longe isso é um problema, principalmente porque a construção da narrativa e da gameplay são ótimas.

O clima de terror está presente desde o primeiro minuto, e o clima de adaptação literária para o cinema e para jogos faz tudo ficar ainda mais aterrorizante. Além disso, escolher criar um clima de terror e uma sensação de ameaça, sem apelar pelos clichês da violência e dos sustos atrás de cada porta, tornam o ASYLUM muito agradável.

Ademais, se você curte uma boa história e gosta de diversos segmentos do gênero terror/suspense, ASYLUM é o melhor lançamento com 15 anos de desenvolvimento que você pode comprar hoje.

ASYLUM foi avaliado mediante uma cópia de revisão gratuita fornecida pela Keymailer.