Space Chief | REVIEW

Se você curte simuladores de vida, adora passar algumas horas na cozinha e gosta do tema espacial mais descompromissado, Space Chief é um apanhado de tudo isso. O jogo desenvolvido pela Blue Goo Games e publicado pela Kwalee é um game divertido, com uma história bem desenvolvida e uma ambientação marcante, criando um jogo divertido e cheio de personalidade. Confira abaixo nossas impressões do jogo e saiba por que será muito divertido cozinhar no espaço.

A vida na cozinha

Como um bom simulador de vida, Space Chief coloca o jogador em meio a diversas tarefas como cozinheiro, mas você não está em qualquer lugar, você estará em uma estação espacial e partido disso, o óbvio ficara em segundo plano. Você terá de circular por diversas colônias espaciais, cozinhando, fazendo entregas e interagindo com a população dessas colônias.

A narrativa segue um protagonista com um passado parcialmente apagado — ex-oficial de uma frota mercante que assume o comando de uma estação deteriorada após um incidente que custou sua patente. O enredo não se apoia em reviravoltas bombásticas, mas em camadas sucessivas de pequenos segredos: registros de tripulantes, transmissões entre corporações, e decisões morais que alteram a reputação do jogador perante facções locais. Essa construção intimista transforma a história em algo menos sobre “salvar a galáxia” e mais sobre redes de dependência humana em micro-espaços. Você terá de interagir, saber o que fazer e atender as necessidades de diversas pessoas nesse universo.

Ainda que herde alguns temas clichês inerentes a jogos do gênero, Space Chief tem uma narrativa autoral e consegue cativar o jogador. O jogador se deparará com escolhas pessoais, com doses sutis de temas morais e éticos, tudo com muita leveza e uma boa dose de diversão.

Guloseimas espaciais

Quando olhamos para Space Chief, o realismo estilizado salta aos olhos, usando muito bem texturas detalhadamente sujas, criando uma sensação de um local deteriorado, mas com uma riqueza de detalhes convincente. A paleta prefere azuis frios e verdes amarelados, pontuada por vermelhos ocasionais, mas tudo com tons mais opacos, que ressaltam a sensação de cidade suja do jogo. Essa sensação vai acompanhar o jogador continuamente, até o final do jogo, mas com aspectos diferenciados, evitando o cansaço visual.

A direção de arte destaca a escala íntima da estação — objetos de uso pessoal, etiquetas adesivas desbotadas e plantas adaptadas mostram que a vida pequena continua em meio ao vácuo. A modelagem não busca fidelidade fotográfica, mas coerência emocional: cada cabine tem proporções humanas e sinais de uso, facilitando empatia. Os menus dispostos na tela atrapalham um pouco, pois não consegue ser eficaz e fica muito em evidência.

A trilha sonora passa desapercebida. Em vez de trilhas orquestradas grandiosas, a música investe em texturas eletrônicas minimalistas, sintetizadores com reverberações longas e motivos melódicos interrompidos. Em momentos-chave, a composição abandona ritmo para ruído ambiental, enfatizando a importância daquele momento. Em termos sonoros, Space Chief não inova em nada e, na verdade, e não teve a mesma inspiração do resto do jogo, não é um problema, mas o jogador mal perceberá ou sequer lembrará de alguma música do jogo quando desligar o jogo.

jogabilidade

Se você sempre pensou em ser um cozinheiro espacial, sua hora chegou. A premissa básica se resume em cozinhar diversos pratos, enquanto gerência seu estoque de alimentos e corre para entregar os pedidos de maneira correta e rapidamente. Os alimentos usados para criar suas receitas são, no mínimo, inusitadas. Não deixe de matar os ratos ou usar ovos de alienígenas, bem como, animais exóticos e selvagens espalhados no jogo, mesmo a coisa mais inusitada pode servir para se cozinhar um prato espacial delicioso que vai alimentar um cliente exigente. Com certeza, essa é uma das partes mais divertidas do jogo.

Logo que você inicia sua jornada, perceberá que mesmo cumprindo cada uma das suas missões, elas em muitas das vezes, resultará em outras, deixando as coisas mais complexas e dificultam a tarefa. Além disso, você se deparará com urgências não planejadas, como manutenções dos seus equipamentos e até mesmo, ajudar pessoas de maneira sentimental, deixando o jogador com uma ótima sensação de abrangência e versatilidade.

Ainda que você seja um cozinheiro espacial, pode entrar em combates, mas essa é a última coisa que você quer, pois como um chefe de cozinha espacial, lutar não nem de longe, um de seus talentos. O jogo sempre priorizará o envolvimento social, usando mecânicas de diálogo com múltiplas possibilidades como, entonação, contexto, conhecimento prévio e outros que tornam as interações memoráveis. Muito do combate que você terá no jogo será relacionada a caçar os insetos que usará nas receitas, é fato que balançar sua espátula para qualquer lado pode resultar em vítimas, não é complexo, mas ainda, sim, é um combate.

Uma característica forte da jogabilidade é que o jogo registra suas decisões anteriores e as usa para abrir ou fechar caminhos narrativos. Isso reforça o fator replay do jogo, pois você sempre terá a sensação de que poderia ter seguido por um caminho diferente. Minissistemas, como pequenas missões de manutenção fora das estações ou em ambientes pontuais, ou ter de lidar com gerenciamento de itens para manutenções entro e fora das estações, funcionam como um ponto de fuga para a jogabilidade central, diversificando a jogabilidade.

Um chef itinerante

A curva de dificuldade é sólida e bem suave, o jogado já inicia o jogo com um bom tutorial, mas como o jogo não tem tradução para o português brasileiro, caso o jogador não domine o idioma, o aprendizado pode ser mais lento. As instruções são bem detalhadas, mas como os menus foram inseridos, deixam algumas escolhas confusas. O jogo é dividido entre dias e noites, e como você pode bem imaginar, algumas tarefas estão diretamente associadas a essas duas etapas. Algo bem claro nesse aspecto é o cultivo, dentre outras. Você pode dormir para adiantar o processo, mas o que é divertido no começo, fica entediante conforme você avança na narrativa.

A progressão desacelera em determinado momento, isso poderia ser um problema, mas como você já poderá explorar o espaço para descobrir novas estações e consequentemente, pessoas e animais. Essa possibilidade quebra qualquer monotonia, por ser muito divertido pilotar sua nave improvisada enquanto lida com asteroide, novas receitas e clientes. Nesse ponto, a sensação de exploração em conjunto com os aspectos de interação social solidifica a proposta do jogo.

Se você quer ser um chefe itinerante, levando suas habilidades na cozinha para qualquer lugar usando seu Steam Deck ou qualquer outro PC portátil, Space Chief está rodando perfeitamente bem nesses dispositivos. O selo de “verificado” ainda não foi adicionado ao jogo quando terminamos essa análise, mas isso deve estar chegando em breve. O jogo funciona com boa taxa de quadros, em torno de 40–60 FPS em modo padrão, mas pode exigir ajustes finos para manter estabilidade em cenas mais complexas, caso você seja um jogador exigente nesse aspecto.

Caso você vá jogar como um dispositivo móvel, sem possibilidade de carregar o jogo a qualquer momento, recomendo limitar o FPS a 40 e usar resolução nativa com escalonamento FSR para equilibrar qualidade e consumo de bateria, algo bem conhecido de quem jogo no console da Valve ou outros similares.

Space Chief — Vale a Pena?

Como um jogo de gerenciamento, Space Chief é um jogo que mistura exploração e relacionamentos de maneira muito divertida, usando gráficos satirizados que deixam o jogo ainda mais impactante. A proposta é leve, simples e agradável, proporcionando uma diversão casual robusta e cativante. Explorar os planetas enquanto cozinha e descobre novas receitas e criaturas é intuitivo e instigante. O ponto negativo fica por conta da interface, que não é das mais fáceis e pela falta de uma tradução para o português. Ademais, o jogador receberá uma boa dose de diversão, seja cozinhando ou explorando.