O mês do terror chegou e com ele, um dos games mais aguardados para quem é fã de jogos de terror e sobrevivência. Após uma demo muito bem recebida pelos jogadores, a desenvolvedora Dual Effect em parceria com a publicadora PQube lançaram o aguardado Tormented Souls II, continuando a saga de terror suspense protagonizado pela bela Caroline Walker. Passamos horas na clínica situada na Villa Hess e trazemos nossas impressões sobre esses momentos de terror, sobrevivência, diversão e alguma sensualidade.
O Claustro do terror
Focado em apresentar uma experiência aprimorada em relação a que tivemos no primeiro jogo, a história de Tormented Souls mantém Caroline Walker como protagonista, mas dessa vez, com um subterfúgio mais emocional como argumento, a irmã de Caroline, Anna. Caroline e Anna tentam viver normalmente após os acontecimentos do primeiro jogo, mas infelizmente, as coisas não vão nada bem, pois a garotinha é acometida por visões assombrosas. Diante dessas visões, Anna começa a desenhar figuras demoníacas e horripilantes. Desesperada e tentando ajudar sua irmã a se livrar dessas perturbações, Caroline viaja para a remota cidade de Villa Hess para tentar repousar em uma misteriosa clínica aninhada nas profundezas das montanhas do sul do Chile. Vale ressaltar que o local é fictício, mas construído de uma maneira bem convincente, levando o jogador a se recordar das construções típicas do século XIX.
Essa nova história se passa seis meses após os eventos do primeiro jogo, que aconteceu em 1994. A equipe de desenvolvimento optou por uma continuação direta, sem avançar muito no futuro ou voltar ao passado para contar uma prequela. Ou seja, Tormented Souls II está acontecendo em meados de 1995. Ademais, a viagem das irmãs em busca de um ambiente mais ameno não sai como o planejado, e após serem recebidas pelas freiras com muita alegria e sorrisos calorosos, e após se acomodarem e irem dormir, algo terrível acontece. Quando Caroline acorda, Anna não está mais ao lado dela. Após uma breve, busca, Caroline perceberá que está em um pesadelo, e sua irmã corre um grande risco, dependo dela, a sobrevivência da garota. Assim começa sua aventura em Tormented Souls II.

A história por trás do jogo é muito previsível, eu realmente não consigo imaginar algo mais óbvio que o sequestro de sua irmãzinha por sádicos violentos para criar um jogo de terror e sobrevivência. Entretanto, no caso de Tormented Souls, a obviedade faz parte de quase tudo no jogo, sendo esses, os fatores que criaram a identidade do jogo. A narrativa fica mais complexa quando você passa a coletar os diversos documentos espalhados pelo cenário, eles fazem toda diferença para distanciar a narrativa, ao menos um pouco, desse argumento clichê.
Esses documentos também colocam a perspectiva mais erótica existente na mente doentia das freiras e madres do local, deixando a velha sugestão de que em um convento de freiras, existe mais do que devoção e oração, se é que me faço entender. Esse argumento é bem interessante, ainda que faça o jogador pensar duas vezes sobre o tema. De qualquer forma ele caiu muito bem na história do jogo, mas tudo ficaria bem melhor se não tivéssemos Anna como um dos pontos cruciais da narrativa, o enredo é pesado o suficiente para fazer a garotinha parecer um argumento quase inadequado.
A luz e a dança das sombras
Os avanços gráficos em Tormented Souls II são visíveis ao mesmo tempo, em que mantém os aspectos do jogo anterior, criando a sensação de continuação direta. O jogo foi desenvolvido na Unreal Engine 5, proporcionando um avanço significativo em relação ao motor gráfico Unity, usado no primeiro jogo. Vale ressaltar que o uso do motor gráfico de última geração da Epic foi bem otimizado, trazendo um jogo com evidentes avanços gráficos, principalmente de luz e sombra, mas sem abdicar de otimizações que permitam o jogo rodar em dispositivos mais modestos. Um bom exemplo disso é que conseguimos jogar de maneira muito satisfatória no Steam Deck, usando configurações medianas. Nesse caso, tivemos de manter uma taxa de fps mais baixa, correndo a cerca de 35/40, um sacrifício valido, caso você queira aproveitar o jogo em um dispositivo com recursos limitados.
Como no jogo anterior, você estará explorando um local fechado, com algumas interações em ambientes abertos, mas sem nenhuma sensação de liberdade. Quaisquer pessoas que tenham passado algum tempo no jogo original, estarão familiarizados com os gráficos dessa continuação, o que me pareceu de ótimo gosto. Os efeitos de luz estão mais vigorosos, mesmo nas configurações mais modestas, a iluminação é parte preponderante do clima criado no jogo. Boa parte dessa iluminação é proveniente de velas, criando diversas sombras no ambiente e limitando muito o alcance da luz. As sombras criadas pela luz das velas refletida nos móveis criam um clima de tensão eficaz e ajudam na sensação de ameaça constante, principalmente quando o jogador precisa passar por corredores mais escuros.
O uso da Unreal Engine 5 proporcionou texturas muito mais impactantes. Os cenários sóbrios e detalhados proporcionam um impacto visual imediato, principalmente quando combinado com o uso das luzes. Essa qualidade sofre algumas quedas em momentos pontuais e em determinadas situações quando o escuro contrasta muito com a iluminação do jogo. Os jogadores podem notar alguma queda de qualidade em reflexos ou espelhamento da luz. Isso fica mais evidente quando o jogo está configurado para rodar em um desempenho mais baixo, ou com janelas maiores, no caso da versão de PC. As quedas de FPS em relação à demo melhoraram significativamente, então, se você jogou a demo, tenha em mente que as coisas estão muito melhores. Elas ainda existem, mas estão mais discretas e o jogo segura a taxa de 60 fps, baixando um pouco em alguns momentos.

Não posso deixar de mencionar algumas características de Caroline Walker que a desenvolvedora manteve e até enalteceu em Tormented Souls II. A sensualidade da protagonista está ainda mais evidenciada, e se no primeiro jogo isso fica claro quando a protagonista acorda nua em uma banheira, a Dual Effect não se preocupou em colocar uma cena muito parecida nessa continuação, onde Caroline é mostrada com pouca roupa em uma situação de fragilidade. Entretanto, não é só isso. O jogador será surpreendido com câmeras posicionadas de forma a mostrar alguns atributos físicos da nossa heroína. Sorte que essa proposta de design se manteve no limite do aceitável, ainda que o jogador mais maduro não se importe com isso, esse subterfúgio funciona muito bem, aliado a algumas histórias que você poderá tomar tento em alguns documentos espalhados pelo jogo. Ademais, essas escolhas artísticas funcionam e tornam Tormented Souls II um jogo com escolhas bem sucintas.
Os cenários possuem uma riqueza de detalhes impressionante, detalhes evidenciados quando Caroline passa com seu isqueiro, iluminando e revelando o que a penumbra escondia. Todos os ambientes contam com uma série de estantes, armários, papéis, quadros e muito mais, trazendo vida, enquanto contrasta com um local abandonado e sem qualquer sinal de que mais pessoas estão na construção. Vale ressaltar que alguns dos objetos deveriam ter sido mais bem trabalhados, é o caso de algumas escadas e objetos espalhados pelo piso. Além disso, os itens no menu continuam estranhos, principalmente quando você os usa. Um bom exemplo é o alicate, quando você vai usar ele para cortar alguma coisa, ele fica minúsculo na tela, isso serve para as chaves e demais objetos. Com certeza foi uma escolha de design, mas mesmo assim, continua estranho.
A trilha sonora do jogo foi composta pelo conhecido artista NyxTheShield, que compôs 53 músicas para o jogo, um número de canções muito robusto, evidenciando que a Dual Effect fez seu trabalho, afastando o jogador de canções sonoras repetitivas enquanto explora. Todas as composições estão perfeitamente alinhadas com cada situação que o jogador enfrenta, além disso, são usadas para demonstrar a importância de um local ou a dramaticidade de um combate, contra os chefes do jogo, por exemplo. Como sempre, ainda que a qualidade sonora seja ótima, tudo depende muito de qual sistema de som você está usando. Um dispositivo de som surround ou o uso de um bom fone de ouvido fará toda diferença, esqueça qualquer tipo de som mono, seria um pecado. O mesmo acontece para os efeitos, você poderá escutar as camadas do som existentes nos corredores, como, por exemplo, passos em uma sala adjacente ou gritos e murmúrios enquanto explora a mansão.

Gameplay
Avaliando a jogabilidade de Tormented Souls II, note que a câmera continua fixa, mantendo as características encontradas nos jogos clássicos de terror, e que a Dual Effect usou isso para criar a identidade do game. A câmera nesse formato se mostra acertada novamente, pois ela ajuda a manter o clima de terror do jogo, principalmente por auxiliar nas preposições das luzes, bem como, evidenciando o escuro. Mas nem tudo é perfeito, você ainda terá pontos onde a câmera atrapalha, principalmente em alguma mudança de ambiente, não é nada que aconteça com frequência, mas quando acontece, poderá atrapalhar fatalmente. Isso acontece com mais frequência quando você está enfrentando ou correndo de algum inimigo, e faz parte do aprendizado do jogo. Conforme você passa mais horas no jogo, notará o ponto certo na transição de câmera, sabendo o momento exato de mudar a posição do seu direcional.
A câmera fixa pode ser um problema, principalmente quando combinada com alguns elementos do jogo. Um bom exemplo disso é na hora de quebrar os vasos. Não foram poucos os momentos em que tive dificuldade de posicionar Caroline para quebrar alguns desses vasos. A sensação que você tem é de estar na posição exata para executar tal ato, mas não está. O mesmo acontece quando você vai pegar algo sobre alguma mesa, esses objetos, em alguns momentos, não ficam claros para o jogador, podendo passar desapercebido. Não me parece ser um problema de level design, mas sim uma relação direta com a posição da câmera, que em alguns momentos, não favorece a exploração, mas sim a posição da personagem em relação a visão do jogador.
Outro aspecto que melhorou significativamente foi o mapa, ele está mais detalhado e abrangente, mas ainda assim, mantém a pureza dos mapas dos jogos clássicos. Esqueça qualquer tipo de indicação de objetivos, você terá de descobrir sozinho, com base nas pistas do jogo o que fazer e aonde ir. Se nos jogos mais modernos, você tem um objetivo claro descrito no seu mapa, ou até mesmo um indicativo em tempo real para onde ir, Tormented Souls II deixará que você descubra com base em pistas o que fazer e muito provavelmente, você ainda terá de resolver um quebra-cabeça para conseguir determinado item ou abrir uma porta importante. Isso pode afastar alguns jogadores, mas a satisfação de conseguir avançar no jogo por méritos próprios é reconfortante e animadora. O modo assistido poderia ter algum meio de orientação, deixando apenas os enigmas a cargo do jogador, criando um modo de menor complexidade para os jogadores casuais acostumados que o jogo os conduzam “segurando pela mão”. Definitivamente, o jogo mantém as características que o definem, e isso é ótimo.

Como a luz é a melhor amiga de Caroline, o isqueiro continua como imprescindível para a aventura, e novamente, é uma das coisas mais legais do jogo, se tornando uma referência quando se fala de Tormented Souls. Ainda que possa parecer algo repetitivo, note que o uso do isqueiro é uma opção totalmente opcional da equipe de desenvolvimento, pois a história do jogo se passa em meados de 1995. Assim como no jogo anterior, sem o isqueiro você não consegue avançar nas partes mais escuras do jogo, pois se o fizer, Caroline perece em poucos segundos, mas você também não conseguirá carregar o isqueiro e uma arma ao mesmo tempo, criando uma sensação de fragilidade contínua.
Como os ambientes escuros são uma ameaça mortal para Caroline, você não poderá combater os inimigos nesses locais sem iluminação, sendo necessário procurar um local com alguma luz para usar uma arma. Essa situação exige uma certa estratégia do jogador, principalmente porque o game não é bondoso com os salvamentos. Você ainda precisará dos rolos de fita para salvar seu progresso, como no primeiro jogo, ou os ink ribbon’s existentes nos primeiros jogos da franquia Resident Evil. Esses itens tão importantes não são abundantes, tudo isso exigirá do jogador, um pouco de estratégia para saber quando salvar o jogo e onde cada inimigo se encontra, criando meios de eliminá-lo, caso esteja no escuro. Saber onde e quando salvar o jogo faz toda diferença, pois salvar seu progresso em intervalos muito longos, pode causar uma sensação de frustração caso você morra algumas vezes, impondo ao jogo uma dificuldade que não é a real.
Tormented Souls conta com três níveis de dificuldade iniciais, mas somente dois deles estão disponíveis desde o início, o Assistido e Padrão. O modo Assistido conta com salvamentos automáticos sempre que você entra em uma sala e oferece munição e itens de cura em maior quantidade durante o jogo. Os inimigos continuam agressivos da mesma maneira que o modo Padrão, que por sua vez, oferece uma campanha idealizada pelos desenvolvedores, com itens que oferecem uma dificuldade e experiencia balanceada. A curva de dificuldade é suave, sendo mais relacionada como você usa sua munição do que com os inimigos propriamente dito.
De qualquer forma, é aconselhável que o jogador não acostumado com as mecânicas do jogo, comece no modo Assistido, isso poupará determinadas frustrações com a dificuldade, e preparará você para a experiência real que o espera no modo Padrão. Além disso, para os jogadores casuais, essa é a melhor maneira de entrar no universo dos games de terror com ambientação clássica. Falando sobre as armas de Tormented Souls II, elas são praticamente as mesmas, o que deixou o jogo repetitivo. Confesso que voltar a usar o mesmo pregador no jogo foi algo frustrante, até mesmo a forma com que você monta a arma foi a mesma. Seria muito mais divertido ter novas armas no jogo, isso renovaria a gameplay e não teria muita influência nas características que a Dual Effect prioriza para manter a identidade do jogo.
Uma das adições mais legais do jogo foi o menu rápido. É impressionante como essa adição melhorou a gameplay e o desenvolvimento das estratégias oferecidas ao jogador. Agora, você poderá alternar entre armas e acessórios sem precisar abrir o menu do jogo. Alternar entre o isqueiro e uma de suas armas em um combate ficou muito mais intuitivo e principalmente, dinâmico. Além disso, não precisar ficar abrindo o inventário a todo momento para equipar uma arma deixou o jogo mais leve, com uma gameplay mais moderna. Infelizmente, o inventário continua desajeitado. Os itens são separados de uma maneira estranha e usá-los, ainda é um processo nada intuitivo. Você tem de selecionar o item e colocá-lo exatamente no local de uso, como uma chave, você está olhando para a fechadura, selecionou a chave certa, mas ainda assim, tem de levá-la diretamente para o buraco. Pode não parecer algo relevante, mas conforme você passa horas no jogo, a sensação é que esse ato quebra a dinâmica.
Tormented Souls II – Vale a Pena?
Desenvolvido para consolidar o gênero que o game anterior reviveu com muita competência, Tormented Souls II é a consolidação da visão do que é um jogo de terror e sobrevivência, e essa visão, funciona muito bem, sendo divertida, densa e principalmente, bem executada. Ambos os jogos funcionam muito bem e consolidam o nome Tormented Souls como verdadeiro e autêntico game de terror e sobrevivência. A escolha de algumas mecânicas em conjunto com a dificuldade, podem afastar alguns jogadores casuais, pois mesmo na dificuldade Assistida, o jogador terá de assumir o protagonismo para resolver quebra-cabeças e saber aonde ir e no modo Padrão, a mesma coisa, mas com menos recursos, mas como não se pode criar uma identidade sem abrir mão de aspectos, a Dual Effect fez o que deveria fazer.
Problemas existem, principalmente em algumas escolhas de level design em manter alguns aspectos idênticos ao jogo original, criando uma sensação de repetição desnecessária, mas essa sensação é amenizada durante o jogo. Graficamente, o jogo é uma experiência gratificante. Não encontrei qualquer problema que comprometesse a experiência no PC, seja jogando nos modos mais exigentes ou em PCs portáteis como o Steam Deck. Alguns problemas de otimização devem ser corrigidos com ajustes após o lançamento e a verificação para os PCs portáteis deve chegar em breve. Ademais, Tormented Souls II é uma experiência sólida, deixando claro que a desenvolvedora sabia exatamente o que estava fazendo, e não hesitou em criar uma obra com uma visão muito pessoal do gênero, e no final, um ótimo jogo de terror e sobrevivência.
ÓTIMO
Tormented Souls II melhora muitas coisas do game original, inserindo um menu rápido, gráficos atualizados usando a Unreal Engine 5 e uma jogabilidade mais intuitiva. Entretanto, tropeça em uma história fraca e a preservação de elementos exatamente idênticos aos do jogo anterior, ainda que o contexto seja totalmente diferente. Um bom jogo que poderia ser ótimo.
Pontos positivos.
- Gráficos com ótima iluminação
- Adição de melhorias no combate e menu
- Enigmas inteligentes
Pontos negativos.
- Elementos exatamente iguais ao jogo anterior
- História sem inspiração
- Inimigos repetitivos