Em 30 de setembro de 2010, a Nihon Falcom lançou para o Playstation Portable, com exclusividade no Japão, o jogo Zero no Kiseki. Kuro no Kiseki iniciaria um novo arco na grande trama da série de RPGs Eiyu Densetsu, ou The Legend of Heroes. O arco Crossbell é um dos arcos favoritos do fã da saga que vem desde 1989 conquistando o público japonês. Com o sucesso no Ocidente da saga Cold Steel, anos depois, os fãs queriam muito conhecer melhor as aventuras do arco Crossbell, que antecederam e são necessários para compreender a história do arco Cold Steel. Atendendo a inúmeros pedidos, a Nihon Falcom finalmente trouxe Zero no Kiseki ao Ocidente, com o nome The Legend of Heroes: Trails from Zero. Vamos juntos conhecer melhor essa grande obra para amantes de RPG!
- Jogo: The Legend of Heroes: Trails from Zero
- Desenvolvedora: Nihon Falcom
- Publicadora: NIS America
- Lançamento: 27 de setembro de 2022
- Número de Jogadores: Single-player
- Gênero: RPG
- Plataformas: PS4, Switch
- Site Oficial: Aqui
Arco de Crossbell
A franquia The Legend of Heroes possui a mesma idade que eu, e uma história complexa com muitos personagens importantes e plot twists que necessitam que o jogador tenha conhecimento prévio sobre os acontecimentos. O arco mais recente, por exemplo, o Trails of Cold Steel (com 4 jogos distintos), conta uma história nova, mas com muitos personagens e acontecimentos que são recorrentes de jogos anteriores. Mesmo assim, o Ocidente ficou abandonado pela Nihon Falcom, que limitou seus jogos ao país de origem. Disposta a compensar o tempo perdido, jogos anteriores começam a serem lançados no Ocidente, traduzidos e remasterizados, a começar por Zero no Kiseki.
Crossbell, que dá nome ao arco, é a cidade principal em que se passa o jogo, o motivo de disputa entre nações poderosas, o Império Ereboniano e a República de Calvard. Crossbell é uma cidade corrupta e imersa em desafios pessoais, com ameaças de guerra, criminalidade, corrupção e monstros terríveis. A Guilda dos Bracers, mercenários destemidos com força suficiente para enfrentar os monstros e garantir a segurança da cidade, ganhou destaque por oferecer aquilo que o governo não conseguia cumprir. A polícia da cidade ficou descredibilizada e virou motivo de chacota. E é no meio de toda essa intriga que conhecemos Lloyd Bannings.
Lloyd nasceu em Crossbell e sempre se inspirou em seu irmão policial. Após a morte misteriosa de seu irmão, Lloyd se formou policial com todas as honras e voltou para Crossbell para tentar descobrir a verdade sobre o que aconteceu com seu irmão. Lloyd foi recrutado para fazer parte do SSS, Support Section, uma divisão nova da polícia recém criada. Junto de novos amigos, Lloyd precisa reconquistar o respeito da população de Crossbell pela polícia.
Policiais Pau-pra-Toda-Obra
A trajetória de sucesso da SSS não será nada fácil. Em meio ao combate contra facções criminosas e monstros ameaçadores, o jogador também poderá intermediar uma série de conflitos menores e questões fúteis da cidade, como itens perdidos e pessoas desaparecidas. Boa parte do jogo se passa na cidade de Crossbell, nossa base de operações. Mas há muitas facetas da cidade a se descobrir e personagens memoráveis a conhecer. A cidade é viva, separada em distritos muito distintos entre si, e seus moradores possuem cada um sua história e algo a acrescentar. Não é difícil se apaixonar pela personalidade de diversos personagens secundários da cidade. Cada missão serve para conhecermos melhor a cidade e todos os segredos que ela e seus habitantes escondem. Conforme realiza missões, a equipe recebe Detective Points, e novas missões são liberadas.
Também conheceremos, é claro, diversas dungeons e outras localidades. Há uma boa variedade de cenários e paisagens. Mas é preciso ressaltar a importância que o jogo dá para Crossbell, e o trabalho que foi feito para que a cidade seja um elemento fundamental do jogo. Para realizar algumas missões, terá de fazer o verdadeiro trabalho de polícia, investigar a fundo, interrogar pessoas e procurar por pistas. Não há marcadores no mini mapa o tempo todo indicando onde temos que ir, é preciso saber interpretar as conversas e fazer deduções lógicas, muitas vezes. Por isso, o conhecimento de inglês é fundamental, caso contrário ficará muito perdido sem saber exatamente o que tem de ser feito para avançar.
A trama do jogo começa de forma bem lenta, como todo jogo da franquia, muito focado nas tramas individuais dos personagens, mas o desfecho surpreendente das missões leva a um panorama completamente diferente. Nada é o que parece ser, e logo a trama começa a tomar proporções épicas. Os inimigos se tornam muito mais poderosos, e a história mostra todo o seu valor digno da fama da série Legend of Heroes.
Sistema de Batalha
O sistema de batalha é por turno, tradicional da franquia. Cada um por sua vez, o personagem poderá escolher se usa ataques comuns, Arts, Crafts, usa itens ou outras habilidades. É preciso se locomover pelo cenário para poder atingir os inimigos ou para alcançar posições estratégicas, como por exemplo, proteger um alvo que queira proteger, ou bloquear a rota de fuga de um inimigo fujão. As batalhas da franquia Legend of Heroes são conhecidas por serem bem estratégicas, e obrigarem os jogadores a entenderem os fundamentos por trás de cada poder que o personagem pode ter.
Além de cada magia ter um poder diferente e um custo diferente, é preciso se atentar a outros fatores, como alcance e raio de ação. É preferível um poder que atinja um único inimigo ou uma fileira de inimigos? Tudo dependerá do posicionamento dos inimigos no cenário, o que pode tornar um poder bem mais vantajoso do que outro naquele momento. Conhecer a fraqueza dos inimigos, a afinidade entre os personagens e a característica de cada status negativo pode ser o fator fundamental para vencer um chefe difícil.
Progressões e Amizades
The Legend of Heroes: Trails from Zero possui uma excelente progressão, e um sistema de combate que não deixa o jogador na mão. Há quatro dificuldades para escolher: Easy, Normal, Hard e Nightmare. As dificuldades mais difíceis são empolgantes e deixam as batalhas muito mais técnicas, necessitando de estratégia a cada movimento. Como é possível salvar o jogo a qualquer momento, mesmo dentro de dungeons, então não há motivo para não se aventurar e tentar táticas novas. A curva de dificuldade do jogo é bem lenta e gradativa, permitindo ao jogador sempre tentar se adaptar ao ambiente sem pressa.
De modo a ficar constantemente mais forte, não basta apenas aumentar o nível e comprar novos equipamentos. A confecção de quartz é essencial para o desenvolvimento do personagens, pois além de permitir novos Arts, também fornece vários benefícios extras ao personagem, como bônus de atributos, deixando o personagem mais forte ou mais rápido. Há inúmeros quartz no jogo, de diferentes níveis, mas o espaço para alocá-los é limitado e dependente de peças difíceis de acumular. Sendo assim, é possível customizar seu personagem de várias formas diferentes, podendo até mesmo fazer configurações específicas para certas dungeons ou para enfrentar inimigos mais complicados.
Caso o jogador queira ficar dando voltas e aumentar alguns níveis, ele pode contar com uma boa facilidade do remaster: o modo High Speed Mode. Nesse modo, tudo fica duas vezes mais rápido (menos o som, o que é ótimo, pois dá para apreciar a excelente trilha sonora sem problemas). Assim, fica ainda melhor ir de um ponto a outro da cidade, ou combater vários inimigos seguidos para subir de nível ou acumular recursos.
Performance de Remaster
Adaptar um jogo de PSP (na verdade, a versão remaster para PS Vita) ao PS4 não é tão simples, e é claro que deixou a desejar. Assim como diversos outros remasters do mercado, o jogo apresenta sim problemas de textura, problemas no som e problemas de localização. O jogo foi melhorado em relação ao jogo original, ainda bem, afinal de contas, era para PSP. Mas saiba que não é um remaster de grande orçamento, e sim um remaster bem simples e preguiçoso, muito mais focado em trazer o jogo do Japão a um grande público do que melhorar o jogo de fato.
The Legend of Heroes: Trails from Zero possui alguns problemas de performance que o tornam não tão agradável aos olhos como poderia ter sido se tivesse recebido mais atenção da Nihon Falcom. Isso não chega a atrapalhar a experiência, mas pode desagradar bastante quem não está acostumado a esse estilo visual e esperava um trabalho melhor pelo valor que foi cobrado. O visual, bonito para a época e para a plataforma, deixa bem claro o quanto é datado, principalmente nos modelos dos personagens, simplistas demais.
A Polêmica
Uma triste polêmica tomou conta do desenvolvimento de The Legend of Heroes: Trails from Zero, especificamente para a versão para Playstation 4. O remaster da versão de PS4 foi feita com base no jogo de PS Vita, que é um remaster da versão de PSP. O jogo não traz melhorias gráficas significativas ou qualquer coisa do tipo, é apenas uma localização do jogo japonês com uma leve pincelada nas texturas. Até aí, nada que difira muito de outros vários remasters por aí, mas a questão é que a versão para Switch e para PC foi feita com base em uma versão já bastante melhorada feito por um grupo de fãs, modders e tradutores. Ou seja, a versão de The Legend of Heroes: Trails from Zero para Nintendo Switch e PC ficou visualmente bem melhor do que a versão do Playstation 4, o que irritou muitos fãs. Os fãs da série que jogaram a versão traduzida pro inglês por fãs principalmente, ficaram revoltados com essa escolha da NIS America.
Porém, vale mencionar que, como um remaster, o trabalho realizado em Trails from Zero é o semelhante a vários outros remasters do mercado. Ficou abaixo do esperado, mas totalmente fiel ao original. O material de divulgação do jogo foi fortemente baseado na versão de PC, que ficou notavelmente mais bonita e melhor trabalhada, mas porque tiveram de usar uma versão alternativa do jogo, não oficial e já adaptada. O fato de terem escolhido uma versão diferente para localizar ao inglês na versão de PS4 não é algo que desabone, foi uma escolha da NIS America para facilitar a conversão para a plataforma. A frustração é compreensível, mas também é compreensível que eles optaram por usar uma versão oficial e mais simples de converter do que uma versão não oficial que já tinha melhorias não oficiais.
The Legend of Heroes: Trails from Zero – Vale a Pena?
Recomendo The Legend of Heroes: Trails from Zero para todos os amantes de JRPGs. O game é sensacional, era uma lástima que não tivesse sido devidamente localizado para o Ocidente, mas, para nossa alegria, finalmente está entre nós. Trata-se de um remaster, com algumas melhorias (exceto para o Playstation), mas com conteúdo de qualidade de sobra. O jogo vale muito a pena pela sua importância para o universo da trama e pelo seu conteúdo em si, um prato cheio não só para os fãs da franquia como para todo amante de JRPGs. Não deixe de adquirir.
Confira também nossos outros reviews.
The Legend of Heroes: Trails from Zero
Gráficos - 7.5
Jogabilidade - 8.5
Diversão - 9
Som - 9
Dificuldade - 9
Fator Replay - 9
8.7
Recomendo The Legend of Heroes: Trails from Zero para todos os amantes de JRPGs. O game é sensacional, era uma lástima que não tivesse sido devidamente localizado para o Ocidente, mas, para nossa alegria, finalmente está entre nós. Trata-se de um remaster, com algumas melhorias (exceto para o Playstation), mas com conteúdo de qualidade de sobra. O jogo vale muito a pena pela sua importância para o universo da trama e pelo seu conteúdo em si, um prato cheio não só para os fãs da franquia como para todo amante de JRPGs. Não deixe de adquirir.